sábado, 25 de junho de 2011

Acidez

E foi quando eu perguntei se lady Melbourne queria chá e ela disse que sim, e eu perguntei se com limão e ela ficou me olhando, olhando, até que ela disse, sabe o que ela disse? que com limão nunca, ataca a acidez de seu estômago, e ficou me olhando como se eu devesse saber disso desde sempre e é por isso que hoje eu não gosto de lady Melbourne, muito embora eu sim sim eu gosto de chá sim obrigado com açúcar, isso, não não limão não, ataca a acidez do - sim, exatamente isso, só o açúcar, isso, assim está bom, obrigado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A arquitetura do vagalume

Já era tarde da noite, mas, como não parava de insistir, achei que era melhor atender.

- Alô.


- Preciso de um texto.


(Detesto texto de encomenda)

- Sobre o quê?


- Não faço idéia. Mas quero que ele se chame A arquitetura do Vagalume.

E desligou sem nem um tchau, um boa sorte, nada. Mas minha imaginação nunca se despede, ela não tem modos, sempre foi assim.

Lembro da vez em que, na prova de Redação, no meio de um parágrafo brilhante, ela desapareceu. Eu estava entrando na adolescência, ainda não entendia bem isso, mas ela não pensou duas vezes, quando eu olhei, ela já não estava mais lá, tinha desaparecido.
Como um animal que brilha e de repente apaga, me vi perdido em pleno vôo, cercado de noite por todos os lados.

Desde então, por puro medo da escuridão, tenho tentado compreender melhor o funcionamento dessa luz, como é que ela acende e apaga assim no meu corpo, mas resta sempre um mistério no aprendizado dessa arquitetura, um mistério que me precipita no abismo da escrita.